sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Procurei

Onde se terá resguardado este homem da chuva imaginária. Os seus pés na areia estavam circulares e a rebentação das ondas desviava o olhar para longe. Como aquela página que se lê e lê e volta a ler sem conseguir ler nada. Sabemo-nos no lugar errado para a procura. Algo estranho domina o nosso corpo e diz-se psicossomático. Ou talvez exista uma alma algo perdida deambulando a noite extrema a fronteira. E ele é apenas tudo. Um assomo de vontade férrea atomica tão invisível quanto verdadeira e poderosa. A palavra feita um gesto de impossibilidade daquilo que nos é consciente. Que porcaria devia estar eu a fazer agora. E nada posso. Mas ouço o mar sempre o mar como se estivesse encostado com o ouvido a um búzio. Afinal a praia inventei-a e não sei de nada nem ninguém.Onde foi aquele homem amante de fim de tarde e de varandas. De livros e sexo. Fuma-se um cigarro sempre um cigarro quando não se sabe o que escrever e julgamos poder escrever. Mas ouço o mar sempre o mar e sozinho em círculos consumo-me afogado nesta chuva imaginária. Mais uma humidade tensa e espessa que se abate cinzenta e redutora sobre a tarde. Mas o mar sempre o mar. Um mar profundo e ao longe o gemido de baleias. Onde estará a palavra sentido.

Um comentário:

Amaral disse...

Sem nada para fazer, ouve-se o mar...
Através do búzio ou mergulhando nele uns pés gelados, os gemidos chegam-nos como gritos alucinantes.
Aquele homem era simplesmente de fim de tarde, como um cigarro que, inevitavelmente, chega ao fim...