quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

-Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
-Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
-Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
-Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.
(Lewis Carroll -Alice no País das Maravilhas)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Eu não sou como tantas outras, não sou igual a ninguém, sou carregada de defeitos únicos e personalizados, possuidora de palavras que tendem a apoderar-se de mim e a emaranhar-me na sua teia... Não te respondo da mesma maneira como tantas outras, não te fito da mesma maneira, não te sorrio da mesma maneira... Mas sei que veneras toda esta simplicidade única e tremenda inconstância, mas... Sim, mas! Opões o distúrbio da tua tranquilidade, a serenidade com que sentes algo que julgas gostar... Eu não te deixava permanecer na tua própria solidão. Eu arrastar-te-ei para um mundo confuso, extasiante e explosivo, mas tens medo. Porém, não tatuava o teu nome (nem sequer a inicial) no corpo, não te escrevia na minha alma, não gritaria por ti no meio da multidão, não provocaria momentos íntimos em locais públicos, não desesperaria por ti, secaria as lágrimas quando o tempo cortasse os sentimentos, não escravizava o meu corpo para que me julgasses uma feroz amante... Eu não seria definida pelo teu toque, ou desejo sussurrado. Eu sou o que sou, e não mudaria por ti...

Conto de Fadas para Mulheres do Século 21

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa,independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava anatureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava deacordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então,a rã pulou para o seu colo e disse:- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa málançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijoteu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe epoderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minhamãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar,lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamosfelizes para sempre...Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadasde um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, aprincesa sorria e pensava: Nem Fudendo ! (Luís Fernando Veríssimo).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

"Existem duas maneiras de não sofrer.A primeira é fácil para a maioria das pessoas:aceitar o inferno e tornar-se parte desteaté o ponto de deixar de percebê-lo.A segunda é arriscada e exige atençãoe aprendizagem contínuas:tentar saber reconhecer quem e o que,no meio do inferno, não é inferno,e preservá-lo e abrir espaço". Marco Polo

Urgente é viver sem medo

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Duvido dos teus olhos tão meus, tão perto, como duvidaria do brilhante achado no meio das bugigangas. Desdenho das inquietudes e dos bateres de asa no peito, de um certo oco das pernas, da efervescência dos nervos, da fragilidade imiscuída na voz. Melhor que não se apodere de mim essa festa permanente, esse tilintar de cristais, essa promessa de estrela. Não quero em mim a instabilidade do vôo, o medo da corda bamba sem rede, a vertigem dos abismos latentes. Duvido dos teus olhos e eles estão tão perto, tão perto. Nego a mim as horas bordadas de expectativa, os planos mirabolantes de assédio, a alienação de tudo quanto lembre a ordinariedade daquilo que era, que foi, antes, antes dos teus olhos, como quem descrê de alturas improváveis porque em mim mora a dor da queda desamparada e o gosto do nada. Contudo, moram em mim também agora teu olhos.
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimentoInteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.
Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

sábado, 2 de fevereiro de 2008

NESTE CARNAVAL

SE FOR DIRIGIR, NÃO BEBA.
SE FOR BEBER, ME CHAME.

CHUVA

As vezes quando começa a chover eu saio pra rua. Eu sempre gostei de chuva brilhando na escuridão .De sentir o frio da noite nas costas e correr sem destino .Sentir as luzes pingando molhado minha testa. Saber que posso chorar sem precisar secar os olhos . Eu sempre fui uma pessoa que contava relâmpago. Essa vida em filme de sessão da tarde me assombra. Por isso eu sempre tentei assumir outras vidas. Causar medo, estranhamento e até mórbida atração. Sempre procurei andar em ruas desconhecidas buscando olhares de primeira vez. Ah.... adoro os olhares de primeira vez... e sinto falta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Apaixone-se por mim. Não um amor de mesa posta, talheres de prata, toalha de renda, não um amor de terça-feira, água morna, gaveta arrumada. Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva, rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente, latejante, um amor de carne, sangue e vazantes, um amor inadiável de perder o rumo o prumo e o norte, me ame um amor de morte. Não me dê um amor adestrado que senta, deita, rola e finge de morto, que late, lambe e dorme. Apaixone-se felino, sorrateiramente e assim que eu me distrair, me crave os dentes, as unhas, role comigo e perca-se em mim e seja tão grande a ponto de me deixar perder. Ame minhas curvas, minha vulva, minha carne, me fecunde e se espalhe por meus versos, meus reversos, meus entalhes. Faça eu me sentir amada, desejada, glorificada em corpo e espírito que eu nunca soube o que é ser de alguém, mas preciso que me ensines, que me fales, que me cales, amém.
"Fecho os olhos pra não ver passar o tempo..."